sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Raquel Dodge defende no STF prisões de condenados em segunda instância

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou nesta quinta-feira aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) um memorial defendendo a possibilidade de réus condenados por um tribunal de segunda instância irem para a cadeia. Esse entendimento já foi fixado pela corte no ano passado. No entanto, com as declarações recentes integrantes da corte cogitando mudar o voto, há um movimento crescente no tribunal para que um novo julgamento seja realizado. A interlocutores, a presidente do tribunal, ministra Cármen Lúcia, disse que não quer pautar a questão para ser discutida em plenário tão cedo.

No documento, a procuradora argumenta que a prisão antes do julgamento de eventuais recursos pelos tribunais superiores é fundamental para o combate à impunidade. Para ela, revogar a decisão tomada no ano passado “representaria triplo retrocesso”. O primeiro seria a mudança de jurisprudência menos de um ano depois, ameaçando a “estabilidade” e a “seriedade” das decisões da corte. O segundo retrocesso seria “para a persecução penal no país, que voltaria ao cenário do passado e teria sua efetividade ameaçada por processos penais infindáveis, recursos protelatórios e penas prescritas”.

Por fim, a procuradora diz que a revisão do entendimento poderia ferir “a própria credibilidade da sociedade na Justiça, com restauração da percepção de impunidade que vigorava em momento anterior ao julgamento”.

Dodge também sustenta que os recursos aos tribunais superiores não permitem a análise de provas – por isso, a medida não fere o direito à defesa do réu. “Mesmo na pendência de tais recursos que não têm efeito suspensivo, dificilmente se estará levando à prisão alguém que será absolvido pelos tribunais superiores”, escreveu a procuradora.

No ano passado, o tribunal decidiu pela execução antecipada da pena e abandonou a orientação anterior – em que, a não ser em casos de criminosos perigosos, a regra era deixar a pessoa recorrer em liberdade até a última instância. A decisão tem repercussão geral – ou seja, deve ser cumprida por juízes de todo o país, na análise específica de cada caso. No entanto, nem no próprio STF esse entendimento tem sido totalmente cumprido.

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A procuradora criticou decisões individuais de ministros que contrariam a decisão tomada em plenário no ano passado. “Note-se que tal prática – inobservância monocrática de precedentes do Pleno - transmite a mensagem de que membros do Supremo Tribunal Federal podem, a qualquer momento, descumprir os precedentes vinculantes decididos pelo Pleno”, afirmou.

Desde o julgamento, vários ministros mudaram de ideia. Gilmar Mendes, que votou pela execução da pena a partir da condenação em segunda instância, anunciou que mudaria o voto para que as prisões fossem determinadas com a confirmação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), dando chance para que o condenado passe mais tempo em liberdade. Já Rosa Weber, que no ano passado era minoria, disse recentemente que cogita mudar de lado. Ela votou contra a antecipação da pena, permitindo que o condenado tenha direito de ficar em liberdade até o último recurso ser analisado pelo Judiciário.

Outro fator que poderia mudar o entendimento sobre o caso é a entrada de Alexandre de Moraes no STF neste ano. Ele não participou do julgamento do ano passado e ocupa o lugar que era antes de Teori Zavascki – que votou pela execução antecipada da pena. Moraes deu alertas recentes sobre a necessidade de se definir a questão novamente em plenário.

Mesmo diante das mudanças de ideias e de integrantes da corte, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, não listou o caso como prioridade – e, portanto, não tem a intenção de pautar nenhum processo sobre o assunto para julgamento em plenário. No ano passado, ela votou com a maioria, para permitir as prisões com condenação em segunda instância.

A ação julgada no ano passado foi decidida de forma liminar (provisória). Agora que o parecer de Raquel Dodge chegou, o relator do processo, ministro Marco Aurélio Mello, poderia liberar o caso para o julgamento de mérito (definitivo). Liberar o processo seria uma forma de tentar pressionar a presidente para marcar uma data.

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Quem defende o novo julgamento argumenta que as divergências atuais têm gerado situações discrepantes em que, a depender do relator sorteado para o habeas corpus, o réu pode ser solto ou mantido preso.

No ano passado, o placar da votação sobre a execução antecipada das penas foi apertado, com seis votos a cinco. Do lado majoritário, alinharam-se os ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Teori Zavascki, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Cármen Lúcia.

Os ministros Marco Aurélio, Rosa Weber, Dias Toffoli, Ricardo Lewadowski e Celso de Mello votaram para que os condenados não sejam presos se estiverem recorrendo judicialmente da sentença. Toffoli explicou que, antes da prisão, a condenação deveria ser confirmada por um tribunal de segunda instância e, depois, pelo STJ. Os outros ministros não especificaram a instância final – que, em tese, pode ser o STF, se a defesa levar o recurso até a mais alta corte do país.

Fonte: O Globo

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